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Apidouro

O Preço do Mel

01/06/2023

Neste ano de 2023, muitos profissionais da apicultura, intermediários e até mesmo exportadores têm se questionado sobre o motivo da redução do preço do mel no mercado. Diversas teorias surgem para tentar explicar o movimento do mercado, porém, a verdade é que não há uma única explicação. A resposta também não é simples e requer uma análise detalhada e ao longo do tempo. Neste artigo, vamos explorar uma explicação lógica embasada em dados e informações públicas para compreender o que está ocorrendo no mercado.

O Processo Antidumping Afetou o Preço do Mel?

Ao analisarmos o processo antidumping nos EUA, frequentemente citado como um dos fatores responsáveis pela queda nos preços do mel, é importante mencionar o caso ocorrido em 2021. Duas associações americanas de apicultores acusaram países como Argentina, Brasil, Índia, Ucrânia e Vietnã de praticarem dumping ao venderem mel a granel para os EUA. Como resultado, solicitaram a imposição de tarifas de importação sobre o mel proveniente desses países. Esse processo trouxe incertezas para o mercado e impactou as expectativas de demanda e oferta de mel. No entanto, é importante ressaltar que outros fatores também desempenham um papel nessa situação complexa, e uma análise detalhada se faz necessária para compreender plenamente o que está ocorrendo.

A aplicação de tarifas ocorreu após o processo, com percentuais estabelecidos para cada país: Vietnã (412,29%), Ucrânia (18,68%), Argentina (16,06%), Brasil (9,38%) e Índia (6,48%). No mercado, ocorreu uma surpresa: o preço do mel dos principais fornecedores dos EUA aumentou consideravelmente devido às tarifas, enquanto o Brasil recebeu uma taxa mais baixa. Assim, o Brasil está em uma posição favorável em termos de preço em relação à Argentina, Ucrânia e Vietnã. No entanto, é importante observar que as tarifas não são a única explicação para as variações de preço no Brasil. Além disso, as diferenças nos custos de frete entre a Índia e o Brasil para os EUA também precisam ser consideradas, o que pode diminuir a vantagem competitiva da Índia. Em resumo, a ação antidumping dos EUA não teve o impacto inicialmente esperado nos preços do mel.

A Variação do Dólar Afetou o Preço do Mel?

Além disso, outro fator importante a ser considerado é a variação do dólar, que é amplamente utilizado como referência para o preço do mel. Como mais de 70% do mel produzido no Brasil é exportado, qualquer alteração no valor do dólar afeta diretamente o preço do produto no campo. No entanto, é importante destacar que a variação cambial não é o único elemento responsável pela queda de preços observada recentemente. No comércio internacional de mel, os exportadores estabelecem um valor máximo que podem pagar pelo mel no campo, levando em consideração seus custos fixos e variáveis, como estrutura, controle de qualidade, frete, entre outros. Quando ocorre uma desvalorização do dólar, esse limite é reduzido, pois os mesmos dólares passam a valer menos em reais. Por outro lado, quando o dólar se valoriza, o limite aumenta. No entanto, as margens de lucro dos exportadores não são tão grandes como se imagina.

Segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o preço médio de exportação do mel em 2023 é de US$ 3,53/kg, o que, considerando a taxa de câmbio média de R$ 5,05, resulta em R$ 17,83/kg. Esse valor deve cobrir diversos custos, como frete, mão de obra, documentação, garantia, perdas, crédito aos clientes, impostos e outras despesas comerciais, além de garantir o lucro dos exportadores. Assim, o preço do mel no campo representa uma parte significativa do valor total do produto exportado, sendo afetado diretamente por variações na taxa de câmbio. No entanto, é importante destacar que não houve uma variação significativa na taxa de câmbio recentemente para justificar a queda observada nos preços do mercado. Portanto, o fator "câmbio" por si só não explica totalmente a situação atual.

O Fator Demanda

Precisamos, então, direcionar nossa atenção para o fator demanda, a fim de entender o que tem influenciado essa queda. Em âmbito global, temos observado uma diminuição na demanda por mel. Essa tendência pode ser compreensível quando analisamos os dados de demanda entre 2017 e 2022.

O “Gráfico 1” mostra como se comportaram as exportações nesse período:

Aumento significativo na demanda durante os anos mais difíceis da pandemia de COVID-19, em 2020 e 2021.

É curioso observar que ocorreu um aumento significativo na demanda durante os anos mais difíceis da pandemia de COVID-19, em 2020 e 2021. Durante esse período, as pessoas ao redor do mundo passaram a adotar novos hábitos alimentares, reduzindo o convívio social e se alimentando mais em casa, enquanto aumentavam sua preocupação com a saúde. O mel, conhecido por seus benefícios ao sistema imunológico e sua associação à saúde, experimentou um aumento expressivo na demanda. À medida que o mundo avançava no combate à pandemia, com o lançamento de vacinas e o enfraquecimento das cepas do vírus, gradualmente retornamos às nossas rotinas pré-pandêmicas. Retomamos as atividades sociais, viagens e refeições fora de casa. Esse retorno às nossas antigas práticas teve um impacto na demanda por mel.

Acredito apenas que estamos retornando a um cenário de hábitos de consumo pré-pandêmicos e que a demanda excepcional observada em 2020 e 2021 foi algo fora do comum. Essa demanda atípica resultou em variações de preços incomuns durante esse período, com um aumento nos preços do mel no campo. Esse aumento pode ser explicado pela alta demanda durante a pandemia, juntamente com a flutuação do câmbio. Por exemplo, a taxa média de câmbio do dólar, de acordo com o Banco Central, variou de US$ 1 = R$ 4,26 em janeiro de 2020 para US$ 1 = R$ 5,93 em maio do mesmo ano, uma variação de 39% em pouco mais de três meses. O dólar valorizado, juntamente com a demanda repentina e imprevisível por mel, criaram um cenário propício para o aumento de preços no campo. Olhando para trás e considerando todos os acontecimentos, é razoável entender que o que vivenciamos em 2020 e 2021 foi parte de um contexto específico.

Atualmente

Atualmente, a variação nos preços do “mel no campo” é principalmente resultado desse novo comportamento do consumidor e não está diretamente relacionada ao câmbio ou ao processo antidumping nos EUA. Se fosse apenas uma questão de taxa de câmbio, a redução de preços seria mais modesta e não estaria acompanhada pela queda na demanda. Além disso, o processo antidumping não é o único fator, já que as vendas para outros países não afetados por esse processo também foram impactadas.

O “Gráfico 2” mostra que as exportações aos EUA sofreram menos do que as exportações a outros locais, fazendo cair por terra aqueles que advogam que o processo antidumping seria o responsável pelas variações de mercado atuais:

O preço do mel: as vendas para os Estados Unidos, que têm tarifas antidumping contra o Brasil, apresentaram uma queda de 15%, enquanto as exportações para outros países, sem tarifas antidumping, sofreram uma queda ainda maior, de mais de 38%.

As vendas para os Estados Unidos, que têm tarifas antidumping contra o Brasil, apresentaram uma queda de 15%, enquanto as exportações para outros países, sem tarifas antidumping, sofreram uma queda ainda maior, de mais de 38%.

No entanto, essa redução na demanda não é exclusiva do Brasil. Países como Nova Zelândia, Polônia e Hungria também experimentaram uma queda em seus volumes de exportação. A Índia e a Ucrânia ainda não divulgaram seus números de exportação de 2022. Por outro lado, a Argentina, nosso vizinho, teve um crescimento de 5% em 2022, embora tenha passado por altos e baixos nos últimos anos e não tenha registrado aumento nas exportações durante a pandemia.

Conclusão

A grande questão que precisamos responder é o que podemos esperar para o futuro. Se não houver mudanças significativas no cenário global, acredita-se que as exportações se estabilizem em níveis semelhantes aos pré-pandemia. Isso significa que os volumes exportados devem variar entre 36.000 e 42.000 toneladas em 2023, aproximadamente. Os preços tendem a se ajustar a essa nova demanda pós-pandemia.

No entanto, quando falamos do futuro, a única certeza é que nada é certo. Apesar disso, continuo acreditando que temos um terreno fértil para valorizar nosso produto, tanto no Brasil quanto no exterior. Aqueles que já adotaram o mel em sua alimentação tendem a continuar consumindo-o. O mel orgânico brasileiro continua sendo um diferencial notável que possuímos. Seu sabor e qualidade são incríveis, com a capacidade de conquistar qualquer pessoa que o prove. Portanto, confio que o cenário futuro será semelhante àquilo que os apicultores vivenciam diariamente: mesmo enfrentando algumas dificuldades, no final das contas, é o sabor doce do mel que deixará sua marca em nós.